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LINGUAGEM DO COTIDIANO

  • profademircomunica
  • 15 de jul. de 2024
  • 4 min de leitura

O PORTUGUÊS HOJE EM DIA POR DENTRO E POR FORA



A tarefa de hoje se me depara com certa dificuldade de discurso sob as hipóteses de convencer o leitor, mas é necessária, buscando o viés que se aproxime da questão semântica das palavras, ou melhor, aqui, dos verbos ‘coisificar-humanizar’, além de personalizar.


Tomada que dê certo.


O valor semântico de um vocábulo é fundamental no momento da redação, a fim de que o texto tenha coesão, isto é, que o contexto tenha início, meio e fim, sem prejudicar ‘a viagem de se redigir o conto, a crônica, o poema’, como nas aulas suadas neste blogue (por favor, prefiro a forma aportuguesada do termo, no lugar de blog, que circula em maior abundância, mas se trata de anglicismo).


Pausa para reflexão: toda palavra estrangeira em uso no nosso idioma deve ser aportuguesada pelo critério ortográfico ou fonológico, excluídas as impossibilidades, para evitarmos o excesso de grafias ‘originais’ de outros idiomas, que geram dúvidas e incorreções gráficas absurdas, inclusive em nomes próprios, além de haver tantos anglicismos e galicismos em nossos textos escritos e falados, já que muitas palavras em voga vêm do Inglês e Francês.


O inovador pode usar caubói, no lugar de cowboy, blogue, no lugar de blog; bâner, em vez de banner, motobói, no lugar de motoboy, xampu e não shampoo; frízer, plural frízeres, e não freezer e freezers, assim como já usamos contêiner(es), pôster, pôsteres. (Alguns anglicismos.)


Butique no lugar de boutique, carnê (bem adaptado) e não carnet, balé e não ballet; turnê, dossiê, capô, boate (e não boite), premiê, premiês. E agora: croissant ou croissã? Boulevard ou Bulevar? (Alguns galicismos.)


Muitos gramáticos consideram os estrangeirismos como vícios de linguagem, mas os empréstimos linguísticos, no mundo moderno, são necessários, só que o excesso e/ou a grafia incorreta, ou inventada, deforma a ortografia do idioma, fato que vem acontecendo em Português: grafias inusitadas.


Voltemos ao topo da questão.


Em coisificar há o sufixo verbal ‘ficar’, com o significado de ‘tornar, transformar em’.


Coisificar a vida, tornar a vida uma coisa. Personificar objetos, transformar os objetos em pessoas, objetos humanizados.


Devemos louvar o critério justo e ‘humano’ de cuidar bem dos animais de estimação, mas levá-los a dormir na cama de criança ou adulto, beijá-los, até na boca, e outras atitudes estranhas, é algo a se discutir.

Quais animais podem ser considerados de estimação? Ter uma potranca dormindo no quarto? Uma borrega almoçando com o casal à mesa? Uma marrã deitada no sofá? Um marrão, ou um cachaço, almoçando na varanda da casa?


É discutível o assunto.


A humanização de objetos (torná-los íntimos aos indivíduos) é muito polêmica, assim como a coisificação de pessoas. Talvez, essa prática venha extrapolando o rumo da Ética.


Pela extensão do comportamento nesse campo, está longe de acontecer que alguém famoso ou endinheirado traga o elefante africano para ser seu companheiro em caminhadas matinais ou o leve a um evento especial?


O circo já cometeu muito abuso com tigres, elefantes, ursos, cujos atos foram considerados ‘desumanos’. Agora, estaria havendo ‘a humanização de animais’?


O trabalho similar à escravidão não seria ‘a coisificação da pessoa humana’?, por isso, combatida pelo Ministério do Trabalho.


A ‘personalização de uma bicicleta’, por exemplo, que se adapte a uma pessoa com necessidades especiais, é muito diferente de ‘personalizar coisas’ por mera vaidade com estranhos amuletos.


Ou o querer humanizar objetos.


‘Personalizar uma camisa’ com uma frase educativa é algo interessante, mas não se deve ‘personalizar um objeto’ de forma tão provocante ou pessoal, a ponto de se usar, digamos, um torniquete pendurado ao pescoço. O povo banto na África tem muitos objetos pessoais pendurados pelo corpo, como brincos ou pingentes, uma tradição cultural, mas algumas inovações de hoje assustam e provocariam medo de como será o nosso futuro nesse campo, que não seria a moda, mas um modismo?


Seria válida a citação da expressão latina ‘Vanitas vanitatum et omnia vanitas’ para  caracterizar esse comportamento moderno? Parece oportuna. Traduzindo-a: Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade. Está registrada em Eclesiastes (XII, 8) sobre a pequenez das coisas deste Mundo (transcrita de Michaelis 2000, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa).


Nosso mestre Machado de Assis, falando sobre ‘coisas da vida’, deixou o nobre pensamento: “(…) as coisas valem pelas ideias que nos sugerem.”


Vamos terminar o artigo de hoje, que deve ter algumas falhas, mas faz parte das coisas.


Os complementos críticos ficam por conta dos leitores, aos quais louvamos.


Ficar, elemento mórfico no final dos verbos, não é o próprio verbo ficar, que tem grande amplitude de sentidos, chamada polissemia. Nesse caso, é um sufixo verbal com o significado de ‘fazer, tornar’. Exemplificar, amplificar, coisificar, personificar, humanizar.


Semântica: parte da Gramática Normativa e Histórica que estuda o significado das palavras através dos tempos, matéria interessante e rica, que pode ser conhecida de todos.

Muitos estão inovando ou inventando em excesso, quem sabe, por vaidade, em detrimento da qualidade das ações humanas, além da possibilidade de firmarem influência negativa.


Um abraço. Obrigado.



JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA

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